Dribbble prejudicou a criatividade no web design
Como o foco estético do Dribbble afetou negativamente a criatividade e funcionalidade no design web.
Começou com um tiro.
Não um lançamento. Não um site ao vivo. Nem mesmo um protótipo. Apenas um tiro — um único retângulo de design, polido e posado para aplausos.
Foi assim que o Dribbble ensinou uma geração de designers a valorizar a estética sobre a experiência, o polimento sobre o propósito, aplausos sobre usuários. E em algum lugar nesse caminho, a verdadeira criatividade web morreu.
A Ascensão da Dribbblização do Design
No início, o Dribbble era um clube de designers visuais para compartilhar trabalhos em progresso. Mas então vieram os ‘likes’ e os seguidores. De repente, não era sobre mostrar seu processo — era sobre exibir.
A plataforma virou o Instagram do design de interfaces. Não era necessário construir um site funcional ou mesmo ter uma ideia completa. Bastava um botão sexy em uma cor que parecesse cara.
O que Perdemos
Perdemos funcionalidade. Botões com glassmorfismo e sombras podem parecer incríveis em um tiro estático, mas não incentivam o clique. Foram feitos para admirar, não usar.
Perdemos contexto. Esses designs vivem em um vácuo — sem rolagem, navegação ou conteúdo, apenas elementos de IU isolados, completamente distantes da realidade de interação do usuário.
Perdemos resistência. Lembra disso? Os desafios de CMSs antigos, códigos legados, auditorias de acessibilidade, prazos impossíveis e orçamentos limitados. No universo do Dribbble, essas coisas não importam.
A Câmara de Eco Estética
O Dribbble está cheio dos mesmos gradientes, mesmos ícones, mesmos cantos arredondados, mesmos painéis de SaaS pastéis. Isso não é design comunitário — é pensamento de grupo estético.
Celebrávamos sites que desafiavam a web. Agora celebramos design seguro o suficiente para vender um CRM.
Você não está projetando para usuários. Você está projetando para designers.
E a pior parte? A maioria das pessoas que gostam desses tiros não são clientes. São outros designers.
Estamos performando design, não praticando-o.
Mas o Artesanato Visual não é Importante?
Claro que é. Esta não é uma chamada para abandonar a estética. Um belo design importa. Artesanato importa.
O problema é quando a beleza se torna o produto, não a interface.
O Legado da Economia do Tiro
O Dribbble nos ensinou a pensar em fatias de fantasia de 800×600. Alguns dos produtos digitais mais bem-sucedidos de todos os tempos não passariam por uma primeira rolagem do Dribbble.
Usuários não navegam no Dribbble.
O que vem a seguir?
Talvez seja hora de nos desapegarmos do Dribbble. Ou pelo menos relegá-lo a seu lugar de direito: um moodboard, um playground visual, um espaço para polimento visual — não design de produto.
Designers devem começar a entregar novamente. Mostrar fluxos reais, casos extremos reais, responsividade real, acessibilidade real.
Talvez o futuro do design web criativo não viva em uma grade pastel de tiros perfeitamente alinhados, mas em interfaces complexas e centradas no usuário que funcionam.
Em Defesa do Feio, do Real, do Funcional
Vamos resgatar a criatividade — não como uma falsificação pixel-perfect, mas como experimentação com propósito. Vamos construir coisas que as pessoas usam. Vamos celebrar o funcional, o rápido, o acessível — mesmo que não seja “digno de Dribbble”.
Porque a verdadeira web não vem em tiros.
Vem em sistemas. Restrições. Concessões. Contexto.
E quando os abraçarmos novamente, talvez — apenas talvez — a verdadeira criatividade volte dos mortos.