Por que a IA não pedirá mais sua opinião
Descubra como a IA está mudando a forma de coletar feedback, substituindo avaliações explícitas por observação de comportamento.
Vamos falar sobre a antiga arte de dar um joinha ou não — antes um elo sagrado entre usuário e algoritmo.
No início da web e da IA, acreditava-se que o feedback nos salvaria: “Diga-nos o que você gosta”, imploravam. “Avalie sua experiência”, pediam, desesperados por validação.
Mas a realidade controversa é que o feedback explícito é um dinossauro. É lento, tendencioso e, francamente, uma ilusão.
A Ilusão da Escolha
Pense na última vez em que você deu um joinha. Foi uma reflexão genuína de suas emoções? Ou uma reação automática, um hábito social, um aceno aos deuses do algoritmo para que parassem de incomodar você?
O feedback do usuário hoje está repleto de distúrbios cognitivos: viés de recência, fadiga, apatia. As pessoas clicam em joinha porque é mais fácil do que lidar com um pop-up. Elas dão joinha negativo porque tiveram um dia ruim — não porque a recomendação era ruim.
Não somos os agentes racionais que os designers de UX sonham que somos. Somos bagunçados. Estamos cansados. Estamos distraídos.
E a IA sabe disso.
De Consentimento a Vigilância Encoberta
Aqui é onde fica desconfortável: o futuro do feedback é invisível. A IA não pedirá sua opinião. Ela a colherá — estudando você.
Em vez de pedir um joinha, ela observará o que você realmente faz:
- Quanto tempo você passa em um vídeo.
- As micro-hesitações ao rolar a página.
- A ligeira mudança de velocidade nos movimentos do mouse.
- A dilatação de suas pupilas ao ver algo que ama (olá, dados da câmera).
Em resumo, seus dispositivos registrarão silenciosamente seus comportamentos e reações — aqueles que você nem percebe que está tendo.
O feedback será retirado do seu subconsciente, não solicitado educadamente.
Por que Isso é Melhor (E Pior)
Por um lado, isso é o que o bom design sempre buscou: um sistema que entende você sem precisar que você diga. Um motor de recomendações que parece mágico porque ele entende você.
Por outro lado, isso é capitalismo de vigilância ao extremo. Se você achava que cookies eram invasivos, espere até seu navegador rastrear suas micro-expressões.
IA ética? Esqueça. Assim que as empresas perceberem que estudar seus comportamentos inconscientes lhes dá dados 100 vezes melhores do que um joinha, as comportas se abrirão. O consentimento se tornará cerimonial. Os termos de serviço mencionarão, mas ninguém os lerá — e, mesmo que lessem, que escolha teriam?
Tente encontrar uma plataforma que não faça isso em cinco anos. Você não encontrará.
O Fim da Era do Feedback
Antigamente, pensávamos na IA como um aluno. Tínhamos que ensiná-la — mostrar exemplos, corrigir erros. Os joinhas eram o treino inicial da IA.
Mas a IA moderna, alimentada por aprendizado profundo e vastos dados comportamentais, está se formando. Ela não precisa mais de nossas migalhas.
A questão não é mais “O que você pensa?” mas “O que você está fazendo quando acha que ninguém está olhando?”
E adivinhe? Alguém sempre está.
Designers, Acordem
Se você é designer de UX, gerente de produto ou cientista de dados ainda construindo interfaces para pedir feedback do usuário, está projetando para um passado que não existe mais.
Em cinco anos:
- Avaliações serão obsoletas.
- Pop-ups de feedback desaparecerão.
- Seu trabalho será interpretar dados comportamentais — não respostas de pesquisas.
A UX da invisibilidade é a próxima fronteira: como coletar tudo sem parecer que está coletando nada. Como parecer centrado no usuário enquanto na verdade está centrado na IA.
É um paradoxo — e é para onde o futuro está indo.
Provocação Final
Costumávamos pensar que escolha era a base do bom design.
Mas o novo credo da IA é diferente:
Não pergunte ao usuário o que ele quer. Apenas saiba.